quinta-feira, 28 de abril de 2011

Abra as asas...

É então que eu digo, vá andorinha, vá. Cruze o teu céu azul que o meu é feito de chuva. Procure tuas águas cristalinas que as minhas são todas turvas. Vá se alimentar das flores, que as minha sementes eu busco no chão enlameado. Vá, vá atrás de seus amores, que passarinho sujo, ninguém quer. Embeleze-se do arco-íris, que eu me contento em formá-lo com minhas lágrimas... Só não se esqueça de que quando suas asas fatigadas te fizerem parar, seu bando continuará voando, com medo da tempestade que virá, e eu estarei lá trás, com aqueles que aceitaram ficar comigo por debaixo da chuva. Só não se esqueça de quando o inverno chegar, meu ninho será mais quente de todos, porque ele não será só meu! Enquanto você terá que continuar voando para alcançar aqueles que te deixaram para trás. E o meu cantar será o mais belo nas noites de luar... E o meu voar será o mais alto quando o sol finalmente brilhar...

E no dia em que os ventos do norte me fizerem levantar vôo e partir para completar a minha vida, terei lembranças das chuvas que enfrentei sorrindo com meus amigos; das águas nem tão doces, que provamos juntos ; das sementes que caçamos, limpamos e depois nos banqueteamos debaixo da lua prateada. Lembrar-me-ei dos amores que tive, que não me julgaram pela aparência e simplesmente me aceitaram no bando, do jeitinho que sou. Lembrar-me-ei do arco-íris tão lindo, que me orgulho em tê-lo tecido com meus amigos, mesmo quando os dias eram os mais nefastos. Enquanto tu, andorinha... Tu se lembrarás das costas de teu bando e do esforço que tinha que fazer para alcançá-los, tudo só porque pareciam mais atraente, mais fáceis de conviver.

Ah, o dia que tua voz se fizer rouca e tuas penas deixarem teu corpo para que as novas surjam, não haverá uma asa amiga que te carregue, porque passarinho depenado não segue o bando...

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