quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Rua Lado Esquerdo do Peito.

"Querido amigo,

Eu sou má por natureza. Acho que te contei isso na primeira vez em que nos vimos. Não sei se te lembras bem, eras tão novo! Aproximei-me de ti como quem não quer nada e tu, com as poucas palavras que conhecias, perguntaste o meu nome. Fiz mistério, disse que não diria, e, por fim, acabaste por não me perguntar mais. Fora este o meu primeiro ato de maldade. Apenas a curiosidade, aquele sentimento amargo por não saberes como chamar aquela que te acompanhava. Lembro-me de por várias vezes te alertar de minha má índole, mas, tu, tão bondoso que és, apenas retrucavas dizendo que a amizade é algo incondicional, que amamos sem querer saber como nem por quê. Achei graça de tua ingenuidade, primeiramente porque eu não o amava. Eu apenas via em ti uma possibilidade de fugir de minha solidão, de sugar toda a tua alegria para satisfazer a minha própria. Eu apenas via em ti mais uma pobre alma a ser atormentada pela minha presença.

Eu te acompanhava e te roubava várias pequenas coisas: um sorriso, um suspiro, um beijo, um abraço e mesmo as coisas materiais como um chaveiro, uma foto, ou um guardanapo de papel que usaste para escrever um telefone. Eu te roubava aquilo que te enchia o peito de alegria, que te fazia encher os olhos com um brilho invejável que por muitas vezes chegava a me apagar ao teu lado. Ah, eu sou mesmo cruel! Roubei-te os momentos mais exaltantes! Todos os passeios, os toques, as madrugadas, as idas ao cinema e os cafés! Eu guardava tudo com uma frieza doentia e tu, sempre tão contente, não percebias meus pequenos furtos. Não notava que ao teu lado eu registrava cada momento teu de alegria.

Então, quando minha bagagem já se encontrava cheia de momentos, mostrei a ti tudo aquilo que eu vinha guardando com tanto zelo até então. Mostrei-te cada pequena peça de minha bagagem e arranquei toda a tua felicidade com minhas unhas afiadas e gélidas. A cada lembrança que recordavas, era como se eu te arranhasse a alma mais fundo com elas. E como as feridas ardiam! Eu me rejubilava a cada vez que de teus olhos escorriam as lágrimas de dor. Fora somente então que percebeste a minha real maldade. Encaraste-me com os olhos turvos de agonia e me amaldiçoas-te, procurando pelo nome que eu não havia dito, procurando por aquilo que te faltava, aquela dor sem nome. E eu, maldosa, machucava-te, cortava-te a pele e fazia escorrer o sangue que pulsava junto à dor no peito. Entretanto, quando abrias a blusa, procurando pela fonte dela, nada encontrava a não ser aquele sofrimento sufocante que fazia o ar parecer insuficiente para teus pulmões. E ali, no auge de tua agonia, eu sussurrei ao teu ouvido o meu nome.

Longas foram as noites que passamos juntos. Longas foram as noites em que eu te atormentei com minha bagagem. Longas foram as noites em que a ciência de que tua felicidade ainda estava a quilômetros de distancia o atormentou e fez com que teus sonhos fossem perseguidos. Perseguidos por mim.

Mas sabes... Tinhas razão em uma coisa. A amizade e o amor são incondicionais e tu dependes de mim, pois eu guardo em minha bagagem as tuas memórias. E não há forma de revê-las se não te renderes à dor de minha presença. E tu dependes de mim, pois, como tua fiel amiga, eu sou a recordação diária do quanto te importas com aqueles que ajudaram a construir as tuas memórias. E tu dependes de mim, pois, quando, no meio da noite, sentes aquela dor sufocante de que algo esta faltando, é o meu nome que gritas, pedindo pelas memórias e pelo consolo de que eu ainda estou a colhê-las.

Vá, continue a construir tuas memórias... Mas não te esqueças: Eu não deixei de te acompanhar. Aliás, ainda estou ao teu lado, quando, em teus momentos de júbilo, colho tuas alegrias. Ainda estou ao teu lado, quando, nos teus dias mais nefastos de solidão, provoco-te as lágrimas e te faço lembrar meu nome. O nome da dor.

De sua eterna amiga.
Saudade."

domingo, 24 de julho de 2011

Despedida

Como traduzir em palavras o que houve? Como traduzir em palavras esse sentimento ambíguo e tão novo para mim? Como, em tão pouco tempo, vocês foram capaz de demolir de forma tão abruta a barreira mais forte existente dentro de mim? Como com gestos tão simples, vocês conseguiram chegar tão fundo em minha alma?
Ainda não entendo o que houve. Não entendo como ainda sinto o toque de seus dedos nos meus com aquele carinho delicioso que eu não sabia existir. Não entendo como fizeram de uma alma tão perturbadoramente sozinha, algo mais sóbrio e menos sombrio.
Não. Não posso chamar isso de sobridez. Não quando posso dizer que me embriaguei com sua presença, que tomei cada dose doentia de seus toques e de seus sorrisos, que me entorpeci com o sentimento adocidado e inebriante da alegria de ter vocês por perto, que me deliciei com a ciência quase intoxicante de que vocês, de alguma forma, se importam. E esse sentimento me pegou de formas que eu nem imaginava, atingiu lugares que eu nem sabia existirem e tomou proporções avassaladores e completamente desconhecidas para mim. Quando eu li “O Pequeno Príncipe”, não imaginava que alguém seria capaz de me cativar algum dia. Aliás, duvidava dessa definição...
Diante disso tudo, a despedida doeu. Doeu como se arrancassem um pedaço de mim, como se me levassem a alma junto e dela se apossassem. Doeu como se a sua partida deixasse um buraco muito mais profundo do que a solidão já havia deixado. Doeu como se eu não tivesse mais a capacidade de sorrir na sua ausência.
Eu ainda sinto o perfume de sua presença nos cômodos da casa, mas o silêncio de suas vozes provam o quão distante vocês estão nesse momento. Agora só ouço o ronco surdo do palpitar solitário de meu coração, enquanto ontem ainda havia a doce melodia de sua presença. E os meus dedos agora procuram o conforto dos teus. E agora que não os encontram, sinto-me novamente sozinha.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Caixinha de sonhos

Onde estão meus sonhos?

Lembro-me que eu costumava escrevê-los em pequenos pedaços de papel, descrevendo cada detalhe, cada pedacinho dele com a minha letra mais bonita. Esperava eternizá-los com aquele gesto, certa de que no final das contas aquelas palavras se tornariam reais... Mas então, eu os relia, e, frustrada com a utopia criada, trancava-os em minha velha e silenciosa caixinha de lembranças...

Hoje eu resolvi abrir a caixinha. Haviam tantas mensagens que fiquei perdidas ao tomá-las em minhas mãos. Ali estavam anos de escrita, anos de utopias criadas pela mente esperançosa de uma criança. Elas estavam velhas, gastas, esquecidas, quase desisti de abri-las por medo de que se desfizessem em minhas mãos... Aqueles sonhos tão frágeis, tão adoecidos... Acabei por abrir o primeiro deles, movida pela curiosidade de relembrar os meus velhos sonhos. E... Puxa! Como fora bom sonhá-los! Como fora bom acreditar neles enquanto os escrevia! Eu tinha até me esquecido de porquê o fizera... Mas ali, enquanto relia cada bilhete, senti minha caixinha vibrar, pulsar novamente dentro do peito em um compasso antigo do qual eu mal podia me lembrar...!

O sangue correu renovado em minhas veias quando eu comecei a reescrever os meus sonhos... Mas, desta vez eu vou endereçá-los, vou compartilhá-los com o mundo e torná-los cada dia mais reais para mim...

terça-feira, 3 de maio de 2011

Your secret

Encontrei isso no Tumblr de um amigo e achei muito bonitinho... Gostaria de compartilhar.


quinta-feira, 28 de abril de 2011

Abra as asas...

É então que eu digo, vá andorinha, vá. Cruze o teu céu azul que o meu é feito de chuva. Procure tuas águas cristalinas que as minhas são todas turvas. Vá se alimentar das flores, que as minha sementes eu busco no chão enlameado. Vá, vá atrás de seus amores, que passarinho sujo, ninguém quer. Embeleze-se do arco-íris, que eu me contento em formá-lo com minhas lágrimas... Só não se esqueça de que quando suas asas fatigadas te fizerem parar, seu bando continuará voando, com medo da tempestade que virá, e eu estarei lá trás, com aqueles que aceitaram ficar comigo por debaixo da chuva. Só não se esqueça de quando o inverno chegar, meu ninho será mais quente de todos, porque ele não será só meu! Enquanto você terá que continuar voando para alcançar aqueles que te deixaram para trás. E o meu cantar será o mais belo nas noites de luar... E o meu voar será o mais alto quando o sol finalmente brilhar...

E no dia em que os ventos do norte me fizerem levantar vôo e partir para completar a minha vida, terei lembranças das chuvas que enfrentei sorrindo com meus amigos; das águas nem tão doces, que provamos juntos ; das sementes que caçamos, limpamos e depois nos banqueteamos debaixo da lua prateada. Lembrar-me-ei dos amores que tive, que não me julgaram pela aparência e simplesmente me aceitaram no bando, do jeitinho que sou. Lembrar-me-ei do arco-íris tão lindo, que me orgulho em tê-lo tecido com meus amigos, mesmo quando os dias eram os mais nefastos. Enquanto tu, andorinha... Tu se lembrarás das costas de teu bando e do esforço que tinha que fazer para alcançá-los, tudo só porque pareciam mais atraente, mais fáceis de conviver.

Ah, o dia que tua voz se fizer rouca e tuas penas deixarem teu corpo para que as novas surjam, não haverá uma asa amiga que te carregue, porque passarinho depenado não segue o bando...